Pedaleira urbana

Júlia Kich
2 min readMay 29, 2024

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Embaixo do asfalto, a terra. Entre os prédios e a pobreza, a pedalada. Na alegria da criança e no trânsito que mata, a freada. Como são malucas as meninas que vejo, elas pedalam no trânsito, na chuva, no frio, sem seguro. Onde está o amor a vida? Joana é uma dessas meninas, escolheu trocar as horas de engarrafamento por um pouco de liberdade entre duas rodas, liberdade que a leva a se sentir pertencente a lugar nenhum porque do guidão às rodas da bicicleta o que a conecta ao planeta terra é somente o corpo da bicicleta. Não sente mais seu corpo e nem o planeta, pedala, pedala, pedala e pensa. Chama isso de ser livre, de sentir a liberdade.

A história nos dispõe a colocar para o jogo do pensar a relação entre planeta terra, bicicleta e o eu. Joana que escolheu usar as duas rodas para trabalhar, viajar, passear, desde então percebe a vida de forma diferente. Enquanto pedala, não está protegida por nenhuma janela ou grande carroceria, isso a permite ver a dura vista da vida apenas com a lente da sua própria realidade construída, uma sensibilidade que só as pedaladas podem proporcionar, chamou isso de amor à vida. É necessário controlar as pedaladas para andar conforme às regras do ambiente social, frente a carros e motos Joana está vulnerável, afinal ainda não parece consenso que as bicicletas devem também ter direito as estradas dominadas por carros, famílias perfeitas com conforto e a “lente ideal da vida”.

Com a bicicleta, rapidamente joana já viu tanta coisa que a lembra de estar no Brasil…. É uma aula de sociologia cada contato com a estrada. Enquanto está em cima da bicicleta já observou gente pedindo dinheiro no sinal, artistas vendendo sua arte, homens mexendo em latas de lixo, ruas desertas, grafites na parede e ruas tão estreitas lotadas de carros que parece estarem dizendo em voz alta, “bicicletas são proibidas nessa estrada, nessa via, nesse mundo”. A pressa da ditadura de automóveis acelera a ciclista Joana a pedalar mais rápido, assim garante que chegará viva em sua casa a ponto de continuar a sonhar com estradas em que todas as formas de transportes dos corpos vivos sejam respeitados.

Joana pensa que o que vem acontecendo com o planeta é uma guerra ideológica, se vende e se consome uma lente para ver e viver no mundo. Mas, todas as lentes adversas são quebradas, não duram muito tempo. Joana sabe que mais gente pode ajuda-la a fabricar lentes cada vez mais fortes, enquanto o passado ensina a projetarmos as outras vidas possíveis na história, enquanto ainda resta história, natureza e vida.

Viva as bicicletas! É hora de buscar meios de transportes alternativos.

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Júlia Kich

A melhor forma de analisar a sociedade é a sentindo.